Sphere Institucional
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jul 11, 2022A importância da Educação Bilíngue no Século XXI
AUTOR
huia
ASSUNTO
Educação
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jul 11, 2022AUTOR
huia
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Proporcionar o acesso de crianças e jovens a uma educação bilíngue significa optar por uma formação que contribui para a equidade e a mobilidade em um mundo globalizado. A educação bilíngue português-inglês, em suas diferentes modalidades, está em rápida expansão na rede privada de ensino, e ao mesmo tempo sua inserção na rede pública enfrenta inúmeros desafios.
Pode-se dizer que a educação bilíngue foi impulsionada por uma percepção de que, face às demandas dos novos contextos socioculturais, o ensino tradicional de inglês nas escolas era insuficiente para que o aluno conquistasse um domínio efetivo da língua. Com isso, houve um aumento da procura por escolas de idiomas que oferecem cursos especializados para crianças e jovens, e isso, por sua vez, abriu o caminho para o surgimento de novas abordagens para o ensino de inglês nas escolas regulares.
Seguindo iniciativas de outros países, como os programas canadenses de imersão ou o CLIL (Content Language Integrated Learning – que se popularizou a partir da década de 1990 na Europa), escolas brasileiras começaram a desenvolver suas próprias proposições para o ensino bilíngue. Hoje observamos algumas modalidades distintas, como as escolas com programas de intensificação de língua inglesa, as escolas bilíngues de currículo integrado e as escolas internacionais.
Tradicionalmente, no Brasil, assim como em outros países da América Latina, o ensino em língua inglesa nas escolas regulares era reservado para as escolas internacionais estrangeiras, associadas ao currículo de outros países, com professores e administradores escolares majoritariamente estrangeiros. Essas escolas recebiam filhos de expatriados e se dedicavam a formar alunos que, em grande parte, seguiam seus estudos no exterior.
Esse cenário vem se transformando com uma nova concepção de educação internacional, que não está relacionada às fronteiras geográficas, mas sim ao desenvolvimento da interculturalidade e da consciência internacional.
Esse é o contexto em que surgem as escolas internacionais brasileiras, como a Sphere Internacional School, que levam em conta duas premissas centrais:
Valorização e desenvolvimento da interculturalidade;
Integração curricular entre disciplinas realizadas em duas ou mais línguas.
O desenvolvimento da interculturalidade, ou da mentalidade internacional, termo usado nas escolas com a certificação IB (International Baccalaureate), pressupõe o trabalho com conceitos e contextos centrais às problemáticas do século XXI, tais como o reconhecimento de quem somos e como nos expressamos; como o mundo funciona, se organiza e se transforma; e como compartilhamos recursos finitos e desigualmente distribuídos no planeta (www.ibo.org).
Explorar esses contextos de modo a desenvolver a interculturalidade requer um planejamento cuidadoso e colaborativo, pois é justamente em razão do processo de integração curricular entre as disciplinas ministradas em diferentes línguas da escola que a perspectiva do aluno poderá ser ampliada.
Ser bilíngue, sob essa perspectiva, não é o mesmo que a somatória de dois monolíngues (GARCÍA, 2009). Essa afirmação é importante, pois ela deve ser a premissa para a elaboração de um currículo verdadeiramente bilíngue e integrado. Vale a pena separar as disciplinas em diferentes frentes de trabalho, em línguas distintas? É comum observar propostas bilíngues que elegem disciplinas para serem lecionadas em inglês e outras em português. A lógica parece indicar que se o aluno transfere o conhecimento de uma língua para outra, não há motivo em trabalhar as diferentes disciplinas em duas línguas. Por exemplo, basta aprender ciências ou matemática em inglês, que o conhecimento será transferido para o português.
Não há uma única maneira de organizar currículos bilíngues, mas esse é um ponto sensível, pois desenvolver a interculturalidade e a mobilidade requer desenvolver o pensamento, que por sua vez, realiza-se por meio de diferentes línguas e linguagens. Quanto mais modos de significar, melhor.
Portanto, a integração das áreas do conhecimento, de modo intencionalmente planejado, pode ampliar as experiências dos alunos durante suas trajetórias escolares, aumentando suas possibilidades de interação com o outro na busca por soluções e na construção de novos saberes.
A consciência internacional, nesse sentido, se traduz em uma pluralidade de perspectivas e maneiras de conhecer o mundo. Não se pauta em fontes únicas de informação, ao contrário, é enriquecida por experiências diversas e interações com pessoas que pensam “diferente”. Como eu sei o que sei? O que preciso saber? Como posso buscar soluções?
O percurso educativo, nessa perspectiva, é contextualizado, investigativo, diverso e dialógico: cria espaços para os diferentes interesses dos alunos, considera o erro como elemento essencial na formação do conhecimento, e valoriza a reflexão e a tomada de decisão em todas as etapas da aprendizagem.
Em uma sociedade globalizada, fazer isso em uma só língua é limitar as possibilidades de aprendizagem e desenvolvimento do aluno. Os jovens de hoje têm acesso a diferentes vivências e interações fora do contexto escolar, experiências que devem ser consideradas e valorizadas na escola.
A educação bilíngue no Brasil, por deitar raízes no ensino tradicional de idiomas, está ancorada em práticas monolíngues. Há uma noção cristalizada de que a integração de idiomas pode gerar atrasos ou falhas no desenvolvimento linguístico.
É verdade que nossas línguas, tanto de nascimento quanto adicionais, precisam de espaços intencionalmente planejados para serem aprendidas e usadas de modo adequado e preciso. Por isso, a integração entre as disciplinas e línguas da escola deve ser pensada a partir de algumas premissas:
– Criação de contextos autênticos e relevantes de aprendizagem;
– Clareza de objetivos e expectativas de aprendizagem, conceituais e linguísticos, nas duas línguas;
– Planejamento colaborativo da equipe docente, com responsabilidades disciplinares e inter/transdisciplinares;
– Diversidade de proposições, que permitam a problematização, colaboração, autorregulação e reflexão por parte dos alunos;
– Valorização de experiências e interações multilíngues e multimodais;
– Valorização de ações participativas na comunidade local e global.
Sendo assim, o planejamento colaborativo no contexto das escolas internacionais de currículo integrado português-inglês é essencial, tanto para o desenvolvimento de conceitos e conhecimentos, quanto para o desenvolvimento linguístico. Quando as experiências de aprendizagem são intencionalmente e colaborativamente planejadas nas diferentes línguas, não deve haver redundância ou repetição, mas sim o fortalecimento de conexões necessárias para a formulação de generalizações, ou seja, para a construção de saberes que transcendem o estudo de idiomas. Em paralelo, estudos disciplinares de língua apoiam o processo, tanto na língua portuguesa quanto inglesa.
Esse processo dinâmico de aprendizagem bi/multilíngue e intercultural reflete as relações estabelecidas no mundo de hoje e abre o caminho para a criação de novos modos de organizar propostas escolares, seja na rede particular ou pública; propostas que não se prendem exclusivamente ao aperfeiçoamento linguístico, mas que aperfeiçoam as línguas a partir da valorização do pensamento e da construção de significado. Para uma reflexão final, trago uma afirmação desafiadora, mas que parece fazer cada vez mais sentido no mundo da educação, ou melhor, na educação para o mundo: “…bilingual education is the only way to educate children in the twenty-first century” (GARCÍA, 2009:5).