Sphere Institucional
/
jul 11, 2022Translanguaging e projetos integrados português e inglês na escola bilíngue
AUTOR
huia
ASSUNTO
Educação
COMPARTILHE
Sphere Institucional
/
jul 11, 2022AUTOR
huia
ASSUNTO
Educação
COMPARTILHE
Você sabe o que significa translanguaging? Esse termo, de difícil tradução, remete à ideia de que nossas práticas linguísticas não são estanques, não se fixam em uma língua natural ou outra, mas que cada um possui um repertório, que por sua vez, é constituído por diversos recursos linguísticos e semióticos, construídos ao longo de nossas trajetórias e experiências de vida. As práticas translíngues, portanto, acontecem quando as pessoas mobilizam, de modo flexível, os vários recursos dos quais dispõem para significar com o outro.
Na Sphere International School, um projeto de encerramento dos anos iniciais do Ensino Fundamental, o PYP Exhibition, celebra a conquista de conhecimentos, habilidades e atitudes essenciais ao desenvolvimento de cada aluno. Conhecido como PYPX, o projeto é realizado em duas línguas, português e inglês, e aproxima também, outras linguagens e formas de expressão dos alunos, como as artes visuais, a música, a tecnologia e o design. Esse ano, os alunos do Year 5 se subdividiram em pequenos grupos para pesquisar assuntos de seu interesse, muitos deles, com foco na pandemia do Covid-19 e seus impactos em diferentes esferas da vida, tais como: meio ambiente, alimentação, Fake News, educação etc. Os trabalhos foram orientados pelas professoras tutoras em português e inglês, em colaboração com professores especialistas, pais e mentores convidados. Ao longo do processo, os alunos foram encorajados a selecionar fontes primárias e secundárias de informação, realizar leituras, entrevistas, assistir vídeos, entre outros modos de explorar os temas escolhidos. Tiveram que se organizar para selecionar os dados mais relevantes, questionar, dividir tarefas e pensar em ações que pudessem impactar a comunidade local a partir das principais problematizações levantadas pelo grupo.
Ao final, o processo foi registrado em um site, com uso da ferramenta Adobe Spark. Nas aulas de design, os alunos foram apresentados ao aplicativo e, nos encontros semanais, organizaram e personalizaram as pesquisas em seus próprios sites. Claro que muitos desafios surgiram ao longo do caminho, como sempre acontece em processos colaborativos, e ainda mais nesse momento, em que tudo foi feito à distância, com orientações remotas e muitos encontros fora dos horários regulares de aula. Após alguns conflitos e obstáculos, muita colaboração, criatividade e superação, ao final, os resultados foram surpreendentes!
O PYPX da Sphere International School pode ser considerado um exemplo de prática translíngue, pois nesse projeto, os alunos tiveram que usar seus repertórios linguísticos de modo bastante dinâmico. Em um mesmo projeto, foram orientados por professores em diferentes línguas, tiveram que acessar informações e realizar entrevistas, organizaram os resultados das pesquisas também em duas línguas, e em diferentes modalidades e mídias. Recorrer a uma língua ou outra, conforme o objetivo ou a necessidade da atividade, fortaleceu a aprendizagem nas áreas do conhecimento e da linguagem acadêmica necessária para lidar com as situações propostas.
Ofelia García, pesquisadora na área da educação bilíngue, trouxe à tona a discussão sobre o translanguaging como forma de ressaltar a importância das práticas multilíngues e multiculturais na promoção de condições mais justas e equânimes para todos. Ao se deparar com a problemática de crianças e jovens de comunidades minoritárias nas escolas bilíngues nos Estados Unidos, a autora percebeu o quanto as abordagens mais tradicionais buscavam ensinar a língua de modo compartimentalizado, muitas vezes, isolando esses alunos em classes especiais ou não valorizando seu real potencial para pensar, compartilhar com os colegas e aprender.
Seu grupo de pesquisa passou a organizar oportunidades de uso dos repertórios individuais dos alunos nas escolas, assim como acontece no meio social. García questionou por que as escolas organizavam seus currículos de modo segmentado, com professores, horários e disciplinas distintas para uma língua e outra, se na vida cotidiana, as línguas se misturam mais dinamicamente. Com isso, García e outros pesquisadores da área passaram a estudar como o translanguaging poderia criar condições mais justas para a aprendizagem de todos os alunos e não somente aqueles que pertenciam aos grupos majoritários.
Transpondo esse cenário para as escolas bilíngues brasileiras os alunos são, em sua maioria, brasileiros que desejam aprender uma língua “internacional”. Nesse sentido, trabalhamos, essencialmente, com duas línguas de prestígio, mas a heterogeneidade ainda está presente. Muitas vezes nos deparamos com alunos novos, que chegam na escola com pouco conhecimento da língua adicional, alunos estrangeiros sem fluência nas línguas de instrução da escola, ou mesmo alunos com interesses e vivências diferentes, resultando em maior ou menor desenvoltura em língua adicional. Com isso, as práticas translíngues podem beneficiar a todos os alunos.
Além disso, quando falamos em integração curricular, as várias possibilidades de conexão entre as línguas, modalidades e formas de aprender podem contribuir para a ampliação de espaços de diálogo e de pensamento com o outro, ampliando perspectivas, valorizando cada indivíduo e, ao mesmo tempo, fortalecendo as próprias línguas.
Finalizamos com duas reflexões de alunas do Year 5 da Sphere International School, que nos contam como foram impactadas pelas experiências vividas durante a Exhibition do PYP e como tiveram seus repertórios ampliados nesse processo.
"I really enjoyed working with my group. I found it challenging when people didn’t go to the link to do the meeting, to do the research. I think I developed being an Inquirer because I researched a lot and I worked very hard." - Aluna Y5
"I think what I liked the most was for us to go from one link to the other and then going to class… What was challenging was being in charge of editing a video, or something, when people didn’t do their part, so I had to wait and wait. Also, dealing with different working styles. I think I developed the ability to be open-minded." - Aluna Y5
Para conhecer mais sobre translanguaging, veja:
GARCÍA, O. Bilingual Education in the 21st Century: A Global Perspective. West Sussex: Wiley-Blackwell, 2009.
VOGEL, S; GARCÍA, O. Translanguaging. Oxford University Press, 2017. Disponível em:
https://academicworks.cuny.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1448&context=gc_pubs