Sphere Institucional
/
dez 05, 2022Mentalidades Matemáticas: ressignificando a relação dos professores e estudantes com a matemática
AUTOR
Dr. Jack Dieckmann
ASSUNTO
Educação
TEMPO DE LEITURA
10 min
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dez 05, 2022AUTOR
Dr. Jack Dieckmann
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Educação
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Um projeto que pretende disseminar uma nova abordagem para o ensino da matemática já faz parte de conversas e formações da Sphere International School.
O projeto Mentalidade Matemáticas foi desenvolvido num centro de pesquisas da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, pela professora Jo Boaler. Essa nova maneira de ensinar matemática é baseada em estudos da neurociência, e o grande diferencial está justamente em tornar a matéria menos abstrata, trazendo exercícios visuais e exemplos práticos. No Mentalidades Matemáticas, as crianças são incentivadas a chegar aos resultados compartilhando estratégias e refletindo sobre os padrões encontrados, em vez de serem apresentadas a equações e fórmulas genéricas.
A Sphere International School foi apresentada à metodologia em 2018, quando foi realizado um grupo de estudos com o livro Mathematical Mindsets, de Boaler. As ideias de Growth Mindset e de matemática criativa e colaborativa foram trabalhadas principalmente com professores e alunos da Educação Infantil ao Ensino Fundamental Anos Iniciais. Agora, a escola quer ampliar esse trabalho para os Anos Finais e o Ensino Médio para incentivar a explorar a matemática de uma maneira em que todos os alunos sejam capazes de performar em altos níveis.
À frente do projeto aqui no Brasil, e um dos responsáveis pela formação com a equipe da Sphere International School, está o professor Jack Dieckmann, PhD e diretor de pesquisa do Centro de Estudos Youcubed, da Universidade de Stanford (EUA). O Dr. Dieckmann nos explicou um pouco mais sobre o projeto e da importância da mudança de mentalidade para se ter domínio da disciplina. Confira:
Blog da Sphere - Você pode nos contar mais sobre a ideia por trás do projeto Mathematical Mindsets?
Jack Dieckmann: A professora Jo Boaler, em toda sua carreira, sempre focou em dar oportunidades a todos os alunos, suas pesquisas sempre foram focadas nesse fio condutor. Entretanto, ela percebeu que existem muitos conhecimentos na área de pesquisa que não são traduzidos para a sala de aula.
Ao ler um artigo de neurociência, ela quis traduzir os conhecimentos mais recentes dessa pesquisa para os professores, pensando de que forma seria possível incluir atividades, ferramentas, protocolos, jogos para serem aplicados em suas aulas. Com isso, compilamos os conhecimentos mais importantes nas áreas de neurociência, psicologia e matemática educacional e desenvolvemos um método de treinamento para os professores.
Blog da Sphere - De que forma o projeto está ajudando a transformar o ensino da matemática?
Jack Dieckmann: O centro foi fundado há sete anos e fica dentro da Faculdade de Stanford. Nos workshops em que participo, muitos professores se emocionam quando se dão conta de que a matemática pode ser ensinada e aprendida de uma outra maneira. Essas experiências mudam toda a trajetória de como eles vão dar aula. Por isso, nosso método se preocupa em sempre conversar com o professor, conhecer seu entendimento, suas experiências e seus traumas com a matemática para depois desconstruir e ensiná-los que esse aprendizado não tem nada a ver com a sua inteligência.
Blog da Sphere - Na perspectiva dos professores, com a sua experiência, quais dificuldades eles costumam encontrar quando ensinam?
Jack Dieckmann: Nos EUA e no Brasil, a matemática é apresentada como um conhecimento separado e isso é transferido para os livros didáticos. E realmente, a matemática é uma mistura onde tudo se conecta. Infelizmente, os materiais e as avaliações passam essa mensagem de que a matemática deve ser decorada, rápida e que não pode ser errada. E essas mensagens acabam atrapalhando o ensino feito pelos professores.
Outro problema do Ensino Médio é a falsa ideia de que apenas os alunos “rápidos” e que conseguem decorar podem aprender matemática. Os próprios professores não acreditam que a maioria dos seus alunos podem aprender e com esse pensamento já contaminam toda a experiência com a matemática. Eu mesmo aprendi que a matemática era algo fixo e que não poderia mudar.
E não é nada disso. A matemática pode ser muito mais criativa e uma experiência positiva. O que falta é experimentar, aplicar uma das estratégias que propomos e ver como os alunos respondem.
Blog da Sphere - O que são pessoas com senso numérico e porque é um melhor caminho em comparação com a memorização?
Jack Diekmann: O que temos que saber é que memorização não é oposto de senso numérico. O oposto é memorização sem entender e senso numérico. Os alunos que decoram sem entender estão trabalhando muito mais do que os alunos que sabem as estratégias, e que possuem um pensamento mais flexível. Quando um aluno diz “ah, eu não pensei que tínhamos tantas formas para fazer um mesmo cálculo”, este é o sentido, que a matemática tem muitos caminhos, não apenas um.
Sabemos que os alunos que possuem um senso numérico mais desenvolvido nos anos iniciais vão conseguir entender muito mais a matemática do que os alunos que não têm esse senso numérico, fazendo que desistam do aprendizado por não terem vivido uma boa experiência. Por isso, investimos recursos e tempo para desenvolver a ideia de senso numérico porque achamos que vale a pena disseminá-la de um jeito criativo e com muitas possibilidades.
Blog da Sphere: Os professores e coordenadores da Sphere participaram das formações mediadas pelo senhor e por formadoras do Instituto Sidarta. O que foi passado? Como isso será refletido na qualidade da educação?
Jack Dieckmann: Nestes três encontros propostos, estamos tratando de três temas diferentes: o primeiro é o que é Mindset. Não adianta tentar motivar os alunos com frases como “eu acredito em você, você vai conseguir”, sem que haja mudanças nas práticas do ensino, nas atividades e na forma de como as aulas são conduzidas. O esforço e incentivo são importantes, mas a forma de como se ensina também precisa mudar.
O segundo encontro realizado foi sobre senso numérico, o que é e como desenvolver. Nele, os professores puderam experimentar e ter uma vivência de como é possível aplicar em suas aulas, quais os pontos que eles devem levar em conta.
O terceiro encontro foi sobre representações. Como é que representamos a matemática? Muitos acham que é só por meio de equações e de números, mas temos muitas outras ferramentas. E quando essa representação é mais visual, os alunos conseguem acertar e entender melhor.
Mesmo sendo encontros breves, de aproximadamente três horas cada, as conversas nos oferecem muitos conteúdos para desenvolver e é por meio dessa interação entre os professores que a transformação acontece.